"Imagens de qualidade indicam uma preocupação maior com design, que transmite maior credibilidade, uma relação de confiança entre o seu leitor e você."
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
As imagens e a credibilidade
"Imagens de qualidade indicam uma preocupação maior com design, que transmite maior credibilidade, uma relação de confiança entre o seu leitor e você."
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Fernanda Lima nua com botas da Arezzo
Numa
imagem divulgada no último sábado, dia 8, Fernanda Lima usa apenas um par de botas de cano curto
da Arezzo – uma marca brasileira posicionada para o segmento de luxo, sendo, aliás, segundo um estudo recente, a primeira
marca feminina e brasileira mais lembrada no “Top of Mind” das mulheres consumidoras
da Classe A (confira aqui: http://bit.ly/1f9ZGDf).
Sendo a Arezzo uma marca de calçado feminino muito conhecida do seu público-alvo, não sei até que ponto uma mulher nua na publicidade será capaz de chamar a atenção e acionar o processo de decisão de compra nas brasileiras com poder aquisitivo.
Embora estejamos a falar de um produto direcionado ao público feminino brasileiro de classe A, ou seja, potencialmente formado, informado e, portanto, mais exigente, haverá,
com toda a certeza, publicitários e teóricos da publicidade capazes de nos
explicarem por que é que os sapatos de uma marca de prestígio precisam de
uma mulher nua para chamar a atenção do seu público-alvo, que é feminino e, teoricamente, de bom gosto. Sendo a Arezzo uma marca de calçado feminino muito conhecida do seu público-alvo, não sei até que ponto uma mulher nua na publicidade será capaz de chamar a atenção e acionar o processo de decisão de compra nas brasileiras com poder aquisitivo.
Em minha opinião, a questão é mais prosaica: estamos perante uma campanha de mau gosto, que parece dirigida por uma agência de publicidade apostada na vacuidade e não por uma agência de comunicação determinada a criar uma relação duradoura entre a Arezzo e as mulheres que podem comprar os seus produtos. No fundo, estamos perante uma comunicação sem conteúdo, a não ser o corpo pago de uma mulher famosa. Ora, no quadro da sociedade hipermediatizada em que vivemos, em que as pessoas estão permanentemente a receber mensagens, vindas de todo o lado, os consumidores querem comunicação com conteúdo, com transparência e sem artifícios. Para estes novos consumidores, que são mais difíceis de conquistar, conteúdo significa informação com rigor. E transparência significa sinceridade. Tudo o resto, incluindo o corpo de uma mulher nua, é dispensável.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
O Benfica não conseguiu evitar a tragédia
A
imprensa desportiva portuguesa anda muito macia. É compreensível, porquanto, em
função das estratégias editoriais – e comerciais –, está muito condicionada pelos interesses dos
clubes e outros agentes do futebol. É por isso que trabalha pouco, não
investiga. É por isso que todos os jornais, mais vírgula, menos vírgula, dizem
o mesmo, ouvindo as mesmas pessoas e salientando os mesmos pontos de vista. É
assim que os jornalistas, que são uma espécie de marionetes do sistema, se
defendem uns aos outros. Porque um jornalista que trabalhe, que investigue, que
aponte o dedo, enfim, um jornalista que seja livre e que escreva algo diferente
dos outros pode ter a carreira em risco.
Previsíveis, e sem informação nova, os jornais desta segunda-feira, assumem as vozes oficiais, escrevendo que foi
evitada uma tragédia no Estádio da Luz, em Lisboa. Por causa do mau tempo,
dizem. Ninguém aponta o dedo à responsabilidade do Benfica sobre a má construção
ou falta de manutenção do seu estádio. Não, a culpa foi do vento e da chuva –
elementos da natureza com costas largas, pois não sentem, não pensam, nem falam.
Mas
não é verdade que a tragédia tenha sido evitada. O Benfica não conseguiu evitar
a tragédia. A cobertura do estádio – que não aguentou um vento mais forte do que habitualmente – e os detritos caíram mesmo sobre o relvado e
as bancadas – pondo em perigo a saúde dos presentes e colocando a nu a falta de condições de segurança do estádio escolhido pela UEFA para receber
a Liga dos Campeões 2013-2014. Por isso é que o jogo com o Sporting Clube de
Portugal foi adiado.
Outra
tragédia foi comunicacional. No Estádio da Luz, as 65 mil pessoas que pagaram o
seu bilhete estiveram mais de 30 minutos à espera de informação sobre o que
estava acontecendo. E sobre o que poderia acontecer. Um exemplo de má comunicação da organização do jogo, a cargo
do Benfica. Para que serve um “speaker”? Será só para fazer a festa, para apresentar passatempos e para animar
a equipa da casa em momentos de aperto? Não, obviamente.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
O extermínio das ciências humanas em Portugal
(...)
O Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do
Minho, é uma unidade de investigação em Ciências da Comunicação, avaliada pelos
peritos internacionais da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) como
Excelente, de resto a única na sua área a obter tal classificação. Trabalham neste
centro 60 investigadores doutorados e cerca de 130 investigadores fazem o
doutoramento. Por outro lado, uma dúzia de bolseiros apoiam os projetos de
investigação em curso. Mas em apenas dois anos, a FCT reduziu o melhor centro
de estudos em Ciências da Comunicação do país a uma unidade de investigação
residual. Cortou-lhe 30% do financiamento global, não aprovou projetos
avaliados como excelentes e reduziu incrivelmente o número de bolsas para
formação avançada. Em 2013, o CECS teve apenas uma bolsa de doutoramento
aprovada, um projeto aprovado em 2012 e nenhum no concurso de 2013.
Por
outro lado, também em 2012, a área de Ciências da Comunicação perdeu a sua
qualidade de área específica, tendo sido colocada no único bloco constituído
das CSH (Ciências Sociais e Humanas), o qual, com os seus 15% de peso no
financiamento, inclui, além das Ciências da Comunicação, a Sociologia, a
História, a Geografia, a Antropologia, as Línguas e Literaturas, os Estudos
Culturais, as Ciências da Educação, as Artes, entre outros. A FCT abriu em 2012
e 2013 concursos de investigadores-FCT, para bolsas de topo na investigação. Os
cinco candidatos do CECS foram reprovados, como aliás todas as candidaturas
nacionais vindas da área das Ciências da Comunicação. Em ambos os concursos,
todavia, nenhum membro do júri era investigador desta área científica. (...)
A
FCT rompeu o pacto de confiança que tinha com as universidades públicas – elas
não são mais o seu parceiro privilegiado para a execução das políticas
científicas. Entretanto, num galope sempre cada vez mais alucinante e
vertiginoso, a irracionalidade seguiu impante. Concursos estruturantes para a
vida das instituições nos próximos seis anos, a serem abertos nas férias de Verão
ou a serem lacrados na passagem do ano. Concursos sem regras fixas, ou com
regras de geometria variável, a serem fixadas em andamento, e até depois de
concluídos os concursos, ou então, pasme-se, a serem alteradas no meio de
concursos abertos. Plataformas informáticas que nunca funcionam de modo
escorreito e tornam caótica a gestão dos prazos dos concursos. A aplicação de
métricas à produtividade científica nas CSH, completamente inadequadas, que
fazem depender a qualidade académica de meras agências de rating. A nomeação de
um Conselho Científico de Ciências Sociais e Humanidades, sem consulta à
comunidade académica e com a credibilidade ferida por uma série de intrusos,
desqualificados na área, uns, com o estigma da encomenda partidária, outros, e
com o vício do nepotismo, outros ainda, um Conselho diminuído em “autonomia,
autoridade e experiência”, a ponto de seis das principais associações
científicas desta área terem exigido, sem mais, a revogação da decisão de
nomeação.
Esta
estratégia, de tão feroz e ensandecida, apenas pode ter como objetivo destruir
a comunidade académica, vencendo-a pelo cansaço, pelo nojo e pelo desespero, na
presunção de que seja impossível suster tamanho ciclone. E, todavia, instados a
pronunciar-se sobre o CECS, o inglês Denis McQuail, professor da Universidade
de Amesterdão e uma referência mundial nas Ciências da Comunicação, e também a
inglesa Annebelle Sreberny e a estadunidense Janet Wasko, respetivamente, a
antiga e a atual presidentes da mais importante associação mundial de Ciências
da Comunicação, a International Association for Media e Communication Research
(IAMCR), escreveram, em síntese:
“O
CECS é o mais reputado centro de pesquisa português em várias áreas, que
incluem a literacia mediática, a economia política dos média, a regulação dos
média, os estudos lusófonos (políticas da língua, políticas da comunicação,
identidade e narrativas, identidade e multiculturalismo), e estudos sobre as
políticas científicas e tecnológicas no espaço ibero-americano. Além disso, o
CECS desempenha um papel de liderança crítica nos estudos da Comunicação. Os
seus membros detêm posições de topo em associações internacionais e na direção
de alguns bem-conhecidos grupos de pesquisa internacional. O centro organizou,
por outro lado, alguns dos mais importantes congressos internacionais de
Comunicação: o Congresso da IAMCR; em 2010, vários Congressos Lusófonos, desde
1999; o Congresso da Secção de Rádio da ECREA, em 2012; o Congresso Europeu de
Semiótica Visual da IAVS, em 2011”. (...)
Deveria
ser permitido puxar da pistola, quando do Governo ou da FCT nos viessem falar
de qualidade e de excelência, de ligação às empresas, de empreendedorismo, de
competitividade e de produtividade. Porque é criminosa uma política científica
que não tem pensamento nem cultura, que não tem conhecimento nem consciência. Um
vento maligno levantou-se na Cidade e percorre-a em devastação. Enquanto durar,
serão anos de calamidade.
Moisés
Lemos Martins, diretor do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS)
da Universidade do Minho e Presidente da Associação Portuguesa de Ciências da
Comunicação (Sopcom) e da Confederação Ibero-americana das Associações
Científicas e Académicas de Comunicação (Confibercom), “Público”, 03-02-2014 ::
Texto integral: http://bit.ly/1eso9XO :: Fotografia: "Público" / Arquivo
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